quarta-feira, 28 de abril de 2010

Contação de Histórias no VIÇOSA CLUBE


No dia 23 de abril, o grupo Conta Outra Vez participou do evento Sexta Dançante - Relembranças, realizado pela equipe do Viçosa Clube .
À convite de Rosângela Belcavel, selecionamos várias histórias, canções e brincadeiras. O objetivo foi proporcionar um espaço prazeiroso para crianças, enquanto os adultos desfrutavam da festa. Contamos histórias como "Pão Quente e Cenouras Frescas", "Chapeuzinho Vermelho" e "Pomba Colomba" para aproximadamente 20 crianças e vários adultos que aproveitaram a oportunidade para também viajar conosco no mundo da imaginação. Diversos recursos foram utilizados, como ficha, fantoche de luva, livros e cd.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Entrevista na Radio Universitária FM


No dia 15/04/2010, a representante do grupo Conta Outra Vez, Kamilla Botelho, foi entrevistada pelo radialista Marcel Ângelo, da rádio Universitária FM, localizada no campus da Universidade Federal de Viçosa.
Durante a descontraída entrevista para o programa "Universitária Notícias", Kamilla pôde falar para os ouvintes sobre as atividades do projeto "A Imaginação e o Lúdico: a Contação de Histórias Infantis", bem como ressaltar a importância de se contar histórias para crianças.

sábado, 10 de abril de 2010

Parceria com o contador de histórias Roberto de Freitas


O post de hoje é muito especial. Trata-se da estréia de nossa parceria com Roberto de Freitas (foto), um premiado contador, pesquisador e criador de histórias. Roberto atua nesta área desde o início dos anos 90. Já se apresentou para públicos diversos, aqui e fora do país. Gravou, em 2002, o CD com histórias e músicas infantis, No Fundo da Mata Ouvi. Dá palestras de motivação em empresas utilizando as histórias e as cantigas populares e ministra cursos.

A seguir, um texto recém escrito por ele. Com a palavra, Roberto de freitas!


AMARRE-ME E ME CALAREI

Como bem disse certa vez o “compadre” Câmara Cascudo: “Amarra-lhe as mãos e os braços, que nada saberás contar...”. E isso é fato. Vou mais fundo, puxando a brasa ainda mais para nossa sardinha: das artes, a contação de histórias é a mais complexa e, contraditoriamente, a mais simples. Se é que assim pode ser, complexa e simples, superposta dessa forma em camadas, como o hábil cozinheiro montando pacientemente uma lasanha. O nosso prato principal é a história, recheada com camadas de complexidade e simplicidade. E são essas camadas que lhes dão esse sabor tão especial e único.

Adiantei e, agora, retrocederei. Não precisamos de muitos artifícios para contar bem uma história. Sei, já assisti a vários e gosto muito: existem narradores que utilizam “mil’itantas” coisas (objetos, bonecos, instrumentos musicais, sombras, tapetes e o santo a quatro etc.) para ilustrar o que estão contando. Mas, quando penso na cena do contador, penso só nele, nos seus próprios e naturais recursos – expressões corporais, faciais e vocais, e pronto... Basta! Aí, é a arte do simples: se existe uma boa história e um contador que conhece a si mesmo, em corpo e alma, então pode se sentar, porque, apenas com isso, como se isso tudo fosse pouco, já teremos um maravilhoso espetáculo.

Disse e torno a repetir: acho válida a utilização de outras coisas. Quando bem usadas, é sim bem enriquecedor. Mas já vi contadores se atropelarem em malas, apitos, bugigangas, colares, figurinos exageradamente coloridos, flores aqui e acolá, que só serviram para desviar a atenção do espectador da história e nada mais. Também já assisti contadores com nada nas mãos, mas que se atropelavam em si mesmos, em movimentos “pendulantes”, e mãos que iam e vinham sem sentido, numa contramão de dar medo, ora nos enervando, ora nos enjoando. E há outros, aqueles contadores bem ensaiados, limpos e com uma memória de dar inveja a qualquer manada de elefantes, numa cena perfeita muito bem dirigida, onde, pela transparência, é possível ver o árduo trabalho que aquele ali teve e, se o acompanharmos com o texto a postos, coincidiremos até nas mais insignificantes vírgulas. A plateia chega a ficar sem fôlego, temendo atrapalhá-lo. Plateia? Que plateia? Nesse caso, ela pouco importa, pois esse contador assim o contará, estando aqui ou na China, tudo será repetido numa narração autônoma, como se assistíssemos a um vídeo com a tecla repeat estragada, num danado vai e volta, partindo sempre do mesmo ponto. E existem os contadores que o tempo todo obrigam a plateia a estar dentro do que estão contando, numa relação que chega a ser bestial e infantilizada, provocando-a com perguntinhas, insistindo em refrões e bordões, numa improvisação mendicante. A história fica tão pobre, remendada, maltratada e maltrapilha, que já nem nos importa mais o seu desfecho, estaremos mais preocupados com o destino daquele que a nós conta. Como ele se sairá daquele emaranhado em que voluntariamente se meteu? A coisa toda fica tão enrolada que não sabemos onde é o seu começo ou o fim, pois não acharemos nunca a sua ponta.

A receita dessa nossa lasanha é ficar de olhos bem abertos para onde o menos é muito pouco e o mais pode ser muito. Certa vez, após uma apresentação, recebi uma crítica, destas que momentaneamente apagam o fogo da gente, que havia dado muito, que podia ter guardado um pouco nas mangas, que tinha levado a plateia à exaustão. E eu era assim mesmo: empolgado. Dava tudo que tinha e mais um pouco, de uma única apresentação saía em frangalhos e completamente rouco. Pecava pelos excessos, pelos exageros, enfim não deixava o saboroso gostinho do quero mais. Hoje, desconfio de que o caminho deva ser o do meio, nem mais, nem menos. E como encontrar esse caminho do meio, se não há ainda escolas que o apontem? Felizmente, toparemos com ele na batalha do dia a dia, no exercício dessa tão encantadora profissão. Essa harmonia nos deverá chegar pela persistência, pelos anos deste caminhar; somente o tempo nos traz a medida exata de todas as coisas. O tempo nos revelará o que vai pelo fundo deste rio, o rio por onde correm as palavras faladas.

Tendo bebido dele, desconfio de que se deva ter muito cuidado com a limpeza e a delicadeza, evitando excessos, gestos redundantes, movimentos involuntários e repetitivos, mãos que não sabem onde se enfiam. E, também, estar sempre atento à proporcionalidade: as expressões devem respeitar o tamanho da plateia que se pretende atingir. É diferente contar uma história sentado ao pé de uma cama ou num ginásio de pé direito alto e apinhado de crianças, bem como num palco italiano ou num programa de TV. Às vezes, é preciso crescer, noutras diminuir, acelerar ou ralentar, encurtar ou alongar, em conformidade com o tamanho e a distância a que estamos dos nossos espectadores.

Os mais belos movimentos são aqueles espontâneos e naturais, que servem para emoldurar ou alongar rítmica e sonoramente as palavras. Já me emocionei muito vendo uma mão indo e vindo, como uma delicada varinha de maestro nos conduzindo harmoniosamente pela melodia da palavra falada. E é lindo!

Aliás, essa beleza é única e rara, pois venho percebendo nas narrações que ouço ou faço: o belo está justamente na impossibilidade da repetição, não há marcação, é o ali e agora. Aquele gesto saiu porque houve uma confluência de todos os fatores, externos e internos, que ali existiram. O clima, a plateia, o estado de espírito do contador, tudo colaborou para que a história fosse contada daquela forma, que nunca mais será contada do mesmo jeito, com aquela compreensão e entendimento.

É lindo porque isso é o que é mais verdadeiro em nós, contadores de histórias. É quando percebemos a nossa perenidade, representada pela comum inquietação que carregamos pela nossa frágil existência humana, a constatação da nossa finitude. E, de certa maneira, convencer-nos disso nos desamarra, vão-se os nós do pudor e da vergonha, do receio do outro, do medo do ridículo, todos esses sentimentos tolos que só servem para nos travar diante de uma plateia. Então, nos desatamos a contar, cantar, tocar, dançar, enfim a viver intensa e verdadeiramente a vida, encantando e se deixando encantar.

Então é por tudo isso, exatamente, que é tão complexo.

Contamos – assim como os manipuladores, com as suas hastes e fios, controlam lá de cima a vida dos seus bonecos cá embaixo, dando anima a eles – conduzindo a vida das personagens residentes em nossa memória e que revivem pela força da nossa voz. Diferente do teatro, onde os atores se escondem atrás das suas personagens e máscaras, estamos o tempo todo expostos. Somos nós mesmos que estamos ali, em carne, em osso e em gesto. Não há ensaios, pois não há previsão, bússolas: “navegar é preciso, viver não é preciso”. Preciso no sentido da previsibilidade: contar histórias é vivê-la, não revivê-la, é só vivê-la e sem voltas, assim na vida como ela é. Cada hora nos sai de um jeito. Foi só ali e pronto, nunca mais. E se fez o verbo e acabou, nunca mais se falará o mesmo verbo daquele modo e jeito. Dali a um breve instante, nem nós já seremos mais os mesmos. Só Deus sabe o quanto eu tentei, em vão, capturar esses momentos de acerto, repetir o mesmo gesto, a mesma entonação, a mesma cara. Mas não é possível, porque tudo muda e nada do que foi de novo será.

Para cada plateia há um tom, uma respiração, uma pausa. Sábio aquele contador que sabe antever como a plateia quer ouvi-lo. Com o tempo, a gente vai aprendendo a relaxar, percebendo que o engessado poucas vezes funciona, simplesmente porque o ouvinte quer se sentir especial, descobrir que aquilo foi feito exclusivamente para ele, é ali e agora, e quem beijou beijou... E quem não beijou não beija mais.

Tenho sido ultimamente muito privilegiado, e agradeço e muito e sempre, deixei a quantidade para poder me reservar à qualidade. É claro, tem um preço: menos trabalho significa também menos segurança financeira, já que sou um profissional dessa área e vivo somente disso. Mas estou viciado nessa narração verdadeira, em que não haverá compromisso com mais nada além daquele breve e espetacular instante, é só e mais nada. Não estou atrelado a nenhuma escola, linha de pensamento, editoras, nada. Somente com o prazer de fazê-lo e fazê-lo do melhor jeito possível, não para ser o melhor, mas para dar o melhor de mim, e entenda que isso também é breve e passageiro, pois esse meu melhor – cadê a minha ingênua modéstia mineira, meu Deus? – vai melhorando a cada instante (desculpe, mas acho que foi para isso que viemos aqui, ir-nos melhorando e sem ter medo de voltar e recomeçar e reconhecer que poderíamos ser muito melhores de outra maneira, enfim de se entregar inteiro e intenso, como há de ter que ser tudo na vida, sem medidas, sem economias e/ou poupanças).

Então, quando estiveres me assistindo, tenhas certeza de que me perceberás ali, meio misturado ao que conto e digo, ao que canto e toco. A minha cena sou eu, a história que conto é também um pouco a minha história de vida, tudo misturado, onde não se sabe quando termina uma e começa a outra. É no que creio e, ao mesmo tempo, aquilo de que desconfio. Porque conto histórias como quem reza, crendo.

E, sendo tratando dessa forma, pouco importa a origem do texto, se é da tradição oral ou se é autoral, o que conta é a nossa verdade, esta de que iremos impregná-lo. Como a fiandeira que usa no mesmo tear diferentes linhas em cores e texturas, para tecer tecidos especiais para agradar a todos os seus fregueses, sejam eles gregos, troianos ou brasileiros.

E entrou por uma porca e saiu pela sua gamela...


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